Rafael foi grande estudioso e dedicado historiador da imigração italiana, residia em Curitiba e faleceu em 17 de novembro de 2008, onde foi sepultado. Ainda mantinha um site na internet que conta a história dos Baldiserra.
Em sua homenagem transcrevemos o texto a seguir, escrito por Rafael, foi publicado na Seção Cultura da Imigração (O italiano que está em você), no Jornal Correio Riograndense de Caxias do SUL-RS, em 11/06/2008, na página 16.
Veja o texto:
O italiano que está em mim
Nascido em Ribeirão (São João do Polesine, RS) em 14-11-1929, filho de Luiz Pedro Baldissera e Lúcia Paganotto; neto paterno de Pietro Baldissera e Tereza Bevilácqua, de Gemona del Friuli (Udine); neto materno de Michele Paganoto, de Lonigo (Vicenza) e Carlota Rorato; bisneto paterno de Luigi Baldissera e Lúcia Marini, de Gemona, e bisneto materno de Francesco Paganto e Giovanna Ba, de Lonigo.“Luigi Baldissera edificou a igreja de Vale Vêneto, e, na conclusão, caiu do alto e faleceu. Pietro Baldissera, meu avô, construiu a igreja de Santa Lúcia, e teve o mesmo fim. Meu pai e meus irmãos mais velhos, Alberto e Alexandre, também foram construtores práticos. Os Baldissera, diz Pe. Clemetino Marcuzzo, construíram tudo em Vale Vêneto.
Michele Paganotto e seu irmão Giuseppe, na chegada, acamparam em barracões de lona, em Val de Buia, perto de Silveira Martins. Depois Michele foi para Ribeirão e Giuseppe para Faxinal do Soturno. Os descendentes foram para Santa Catarina e Paraná. Michele era sapateiro: consertava e fazia sapatos, com formas trazidas da Itália.
Michele reunia o povo aos domingos e festas para pregar la corona e cantar Noi vogliam Dio e altri canti. Toni, seu filho, tocava o sino à hora da Ave-Maria, de manhã e a noite, e do Ângelus, ao meio-dia. Nos domingos e dias santos, o toque era festivo, e nos falecimentos, triste. Tia Verônica, irmão de Toni, preparava as crianças a 1ª Comunhão. A família Paganotto era tão religiosa que, em criança, disse a um priminho:
- Aquela menina é tua namorada. E ele me respondeu:
- Impara le orassion!
Com 12 anos, ingressei no Juvenato Marista, em Passo Fundo. Eu, acostumado, em lugar baixo, no inverno chorava de frio. Um dia fui ao centro comprar um terno. Na volta, os colegas perguntaram o que eu fui fazer. Respondi:
- Fui comprar um vestido! Todos riram, mas eu só sabia falar Talian.
No 2º ano, fui ao Juvenato Bom Principio entre alemães. O padre fazia o sermão em alemão, e o repetia em português. Italiano polenteiro e alemão batata eram nossos xingamentos!
No 3º ano, fui ao Juvenato Champagnat, em Porto Alegre, que abrigava juvenistas, postulantes, noviços e escolásticos, em terreno grande, com parreiral, pomar, criação de aves e animais, e campos de futebol. Hoje é espaço da PUCRS. Tomávamos banho no Arroio Sabão, que passava ao lado.
Em 1940, matriculei-me na PUCRS, onde me formei em Letras Neolatinas: português, francês, espanhol, latim e italiano, liguas que lecionei menos o italiano, no Colégio Rosário, em Porto Alegre, e São Francisco, em Rio Grande. Em 1952, me desliguei da Congregação Marista, vim a Curitiba, me formei em Direito e em Ciências Econômicas. Casei com Leony de Paiva Rizental, neta de franceses, e tivemos as filhas Lúcia e Flora, formadas em Desenho Industrial. Lúcia casou com o Eng. Carlos Eduarado Ramina, pais de Francisco e Felipe. Flora casou com arq. Altair de Souza, pai das trigêmeas: Vitória, Marina e Olívia, que, aos 13 anos ilustraram minha obra El Ritorno de Nanetto in Val Veneta e in Itália.Em Curitiba lecionei economia política na Faculdade de Ciências Econômicas da PUCPR e línguas em seis colégios.
Atuando no Senac desde 1952, fui Auxiliar de Assistente Técnico e Assistente Técnico de Ensino, Chefe de Seção de Orientação Pedagógica e Secretario.
Viajei três vezes à Itália. Em Gemona, pesquisei a geneologia Baldissera desde 1200, e me correspondo com os lontani parenti de Gemona”.
No final do texto, um comentário: Rafael é uma referência da história e lingua dos imigrantes (Frei Rovílio Costa).
Carlota Rorato - nascida em Chiarano, no dia 6 de dezembro de 1872. Veio ao Brasil junto com seus pais, tendo 16 anos de idade. Casou em Vale Vêneto com Michelle Paganotto, no dia 10 de abril de 1891. Residiram em Ribeirão. Miguel, como era conhecido, exercia as funções da lida agrícola e era sapateiro, Consertava e fazia sapatos com formas vindas da Itália. Identificamos dois de seus filhos: Lucia Paganotto casada como Luiz Baldissera e Mariano Paganotto casado com Ignez Dotto.
O italiano que está em você é um projeto do frei Rovílio Costa divulgado em parceria entre o Correio Riograndense e a Revista Insieme.